sábado, 2 de maio de 2015

O naufrágio das políticas de imigração da UE

A imagem de centenas de vidas “naufragadas” no mediterrâneo deve causar-nos a todos angústia e desespero. Esta tragédia tem origem em vivências seculares de pobreza extrema, perseguições raciais, étnicas e religiosas e conflitos armados que duram há décadas, destruindo regiões e as suas populações.

Os naufragados são pessoas que tentam a todo o custo alcançar o “sonho europeu”, viver em território democrático, ser pago pela atividade que exerce, longe dos conflitos e da fome que os persegue. Pessoalmente são motivos mais que admissíveis. Mas estará o velho continente europeu ciente dessa admissibilidade?

Após as recentes tragédias, nomeadamente a de 19 de abril, que deixou o mundo a olhar para o mediterrâneo, a UE, através do Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, declarou que a sua ação não foi suficientemente ambiciosa, referindo inclusive um reforço da operação Tritão e o abandono da operação, italiana,  Mare Nostrum, que assentava em 3 eixos: estreitar a cooperação com os países de origem dos imigrantes, com o objetivo de desencorajar as travessias perigosas; reforçar a vigilância das fronteiras e, por último, melhorar a receção dos imigrantes. Segundo o diretor do escritório da amnistia internacional para as instituições europeias, Nicolas J. Berger, a substituição da primeira pela segunda não veio trazer quaisquer benefícios para encontrar soluções humanizantes e dignificantes da vida humana, na medida em que “a Tritão não é uma operação de busca e salvamento”, mas sim uma prova clara que a contínua preocupação dos Estados-membros com a proteção das fronteiras se sobrepõe às pessoas” (http://www.amnistia-internacional.pt).

No blogue Fortress Europe, descrevem-se outras realidades, sob outras perspectivas, na minha opinião, bem mais angustiantes. O jornalista Gabriele Del Grande, para além de nos mostrar a abrangência desta real tragédia, que contabiliza, desde 1988, 19.144 mortos, entre os quais 8.822 desaparecidos, relata ainda histórias de vidas na primeira pessoa, sobreviventes dos naufrágios, que insistem em verbalizar ações criminosas perpetuadas pelas autoridades de controlo de costa, principalmente as dos países mais visados por este tipo de imigração, a Itália, a Grécia e a Turquia.

Acredito e defendo, a par do que preconizava a operação “moribunda” Mare Nostrum que a solução a longo prazo passará pelo apoio aos países de origem deste tipo de imigração, sendo essencial, intervir ao nível da pacificação destes territórios. Neste seguimento, o secretário- geral da Nato, Jens Stoltenberg, referiu que a palavra de ordem é estabilizar estas regiões de forma a contrariar os movimentos migratórios originados pelo desespero de fuga à guerra, à perseguição e à fome.

Utópico? Talvez! Ou talvez não!

Mais ainda, é importante, tal como defende a Amnistia Internacional que a UE intervenha em uníssono e que crie políticas de imigração que promovam a criação de rotas seguras e legais para a Europa, garantindo assim que as pessoas não tenham de arriscar as suas vidas para poderem usufruir, em pleno, daquilo que lhes pertence por direito: a vida. A vida é, por si só, condição sine qua non para tudo o resto.



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