quarta-feira, 20 de maio de 2015

"El Bloqueo"

O embargo perpetrado pelos EUA, desde os anos 60 do passado século, a Cuba sempre me causou alguma curiosidade, mas também angústia. Como é que um país, por mais influente que seja, consegue manter uma sanção deste tipo por tantas décadas seguidas, sem que haja efetiva oposição por parte das restantes nações deste nosso planeta? Aqui está a curiosidade…

A angústia vem já a seguir. Como é que este povo cubano sobrevive a esta imposição e se mantém “vivo” após tamanho castigo? Os relatos dos turistas nacionais que viajam para este destino revelam dificuldades várias por parte da população na obtenção de bens essenciais ou outros de utilidade major, como seja material escolar básico, canetas e lápis, artigos de higiene e muitos outros de idêntica conveniência. Mas os mesmos relatos descrevem um povo que sorri, que é espontâneo e altivo, que se orgulha de honrar a famosa frase, estampada num outdoor próximo do aeroporto José Marti, que refere que “200 millones de niños dormen hoy en las calles del mundo. Ninguno de ellos es cubano”. 

Apesar da descrição das dificuldades vividas pela população cubana, a taxa de pobreza da ilha situa-se nos 4%, muito menor que a média da América Latina, que ronda os 35%; a educação é vista como uma das melhores da América Latina e até do mundo e o sistema de saúde é reconhecido além-fronteiras pela sua excelência e eficiência, baseado na amplitude de cobertura da medicina preventiva, através de um sistema de atendimento familiar. Portanto ouso dizer que o que ressalta á vista nesta ilha Caribenha não é a pobreza mas a falta de riqueza, potenciada pelo famoso embargo.

A história conta-nos como tudo se desenrolou.

Depois da Revolução Cubana, movimento que culminou com a destituição do ditador Fulgencio Batista, em 1959, as políticas económicas de Cuba, nomeadamente a reforma agrária e a nacionalização da indústria, apontam para uma adesão clara deste país ao comunismo soviético. Estando em plena Guerra Fria, os EUA decidiram agir de imediato impondo algumas  restrições comerciais sobre a ilha, medida que aproximou Cuba e União soviética, na medida em que para suavizar as dificuldades económicas  originadas por aquela ação,  Fidel Castro, optou por exportar açucar para o bloco de leste em troca do seu petróleo.

A aproximação entre cubanos e soviéticos fica ainda mais intensa a partir de 1961, depois de 1.500 exilados cubanos treinados pela CIA tentarem invadir, sem sucesso, a ilha pela Baía dos Porcos. A operação fazia parte de uma iniciativa mais ampla para desestabilizar o governo de Fidel. Convencido de que os Estados Unidos planeavam invadir seu país, o líder começou uma militarização agressiva de Cuba — decisão que desencadeou a "crise dos mísseis" na ilha.

O final da guerra fria também não foi suficiente para acabar com o bloqueio económico decretado pelo presidente Kennedy. Ao contrário, os Estados Unidos aumentaram o isolamento de Cuba com as leis Torricelli (1992) e Helms-Burton (1996) que punem também seus parceiros comerciais que negociarem com a ilha. Em 1992, a ONU condenou o bloqueio pela primeira vez “por motivos humanitários”. Em outubro de 2014, 185 países declararam-se contra o bloqueio em votação na ONU; Estados Unidos e Israel foram os únicos a votar a favor. E assim, a ONU permitiu e permite a continuidade do embargo.

E "el bloqueo" continua a trazer sofrimento ao povo cubano, como alertou o presidente Raul Castro, em entrevista, logo após o reatamento diplomático em 17 de dezembro de 2014. Momento histórico, repleto de significado pessoal, na medida em que acompanho esta relação “fria” há vários anos, cerca de 15 anos, desde que um familiar meu me descreveu um país diferente, resistente, que se recusa a sobreviver, porque vive plenamente com os parcos recursos que mantém desde há mais de 50 anos.
Acredito que dê frutos e acabe com décadas de opressão. É necessário, pois, derrubar mais este “muro” que insistiu em se estabelecer e permanecer entre povos vizinhos. Acredito que, quando finalmente conhecer Cuba, acabarei também por visitar os EUA, não estivesse ali tão perto a Florida, à distância de uma viagem de lancha, que, nos meus planos, sairá calmamente de um porto cubano para “abraçar” o país vizinho.

Utópico. Não me parece. A diplomacia dos dois países ditará, certamente, novos encontros que promoverão “apertos de mão” coletivos, entre estes povos, condição sine qua non para o equilíbrio mundial e desenvolvimento das nações.




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