O embargo perpetrado pelos EUA, desde os anos 60 do passado
século, a Cuba sempre me causou alguma curiosidade, mas também angústia. Como é
que um país, por mais influente que seja, consegue manter uma sanção deste tipo
por tantas décadas seguidas, sem que haja efetiva oposição por parte das
restantes nações deste nosso planeta? Aqui está a curiosidade…
A angústia vem já a seguir. Como é que este povo cubano
sobrevive a esta imposição e se mantém “vivo” após tamanho castigo? Os relatos
dos turistas nacionais que viajam para este destino revelam dificuldades várias
por parte da população na obtenção de bens essenciais ou outros de utilidade
major, como seja material escolar básico, canetas e lápis, artigos de higiene e
muitos outros de idêntica conveniência. Mas os mesmos relatos descrevem um povo
que sorri, que é espontâneo e altivo, que se orgulha de honrar a famosa frase,
estampada num outdoor próximo do aeroporto José Marti, que refere que “200
millones de niños dormen hoy en las calles del mundo. Ninguno de ellos es
cubano”.
Apesar da descrição das
dificuldades vividas pela população cubana, a taxa de pobreza da ilha situa-se nos 4%, muito menor que a
média da América Latina, que ronda os 35%; a educação é vista como uma das
melhores da América Latina e até do mundo e o sistema de saúde é reconhecido além-fronteiras
pela sua excelência e eficiência, baseado na amplitude de cobertura da medicina
preventiva, através de um sistema de atendimento familiar. Portanto ouso dizer
que o que ressalta á vista nesta ilha Caribenha não é a pobreza mas a falta de
riqueza, potenciada pelo famoso embargo.
A história conta-nos como tudo se desenrolou.
Depois da Revolução Cubana, movimento que culminou com a
destituição do ditador Fulgencio Batista, em 1959, as políticas económicas de
Cuba, nomeadamente a reforma agrária e a nacionalização da indústria, apontam
para uma adesão clara deste país ao comunismo soviético. Estando em plena
Guerra Fria, os EUA decidiram agir de imediato impondo algumas restrições comerciais sobre a ilha, medida
que aproximou Cuba e União soviética, na medida em que para suavizar as
dificuldades económicas originadas por
aquela ação, Fidel Castro, optou por
exportar açucar para o bloco de leste em troca do seu petróleo.
A aproximação entre cubanos e soviéticos fica ainda mais
intensa a partir de 1961, depois de 1.500 exilados cubanos treinados pela CIA
tentarem invadir, sem sucesso, a ilha pela Baía dos Porcos. A operação fazia
parte de uma iniciativa mais ampla para desestabilizar o governo de Fidel.
Convencido de que os Estados Unidos planeavam invadir seu país, o líder começou
uma militarização agressiva de Cuba — decisão que desencadeou a "crise dos
mísseis" na ilha.
O final da guerra fria também não foi suficiente para acabar
com o bloqueio económico decretado pelo presidente Kennedy. Ao contrário, os
Estados Unidos aumentaram o isolamento de Cuba com as leis Torricelli (1992) e Helms-Burton (1996) que punem também
seus parceiros comerciais que negociarem com a ilha. Em 1992, a ONU condenou o
bloqueio pela primeira vez “por motivos humanitários”. Em outubro de 2014, 185
países declararam-se contra o bloqueio em votação na ONU; Estados Unidos e
Israel foram os únicos a votar a favor. E assim, a ONU permitiu e permite a
continuidade do embargo.
E "el bloqueo" continua a trazer sofrimento ao povo cubano,
como alertou o presidente Raul Castro, em entrevista, logo após o reatamento
diplomático em 17 de dezembro de 2014. Momento histórico, repleto de
significado pessoal, na medida em que acompanho esta relação “fria” há vários
anos, cerca de 15 anos, desde que um familiar meu me descreveu um país
diferente, resistente, que se recusa a sobreviver, porque vive plenamente com
os parcos recursos que mantém desde há mais de 50 anos.
Acredito que dê frutos e acabe com décadas de opressão. É necessário,
pois, derrubar mais este “muro” que insistiu em se estabelecer e permanecer entre
povos vizinhos. Acredito que, quando finalmente conhecer Cuba, acabarei também
por visitar os EUA, não estivesse ali tão perto a Florida, à distância de uma
viagem de lancha, que, nos meus planos, sairá calmamente de um porto cubano
para “abraçar” o país vizinho.
Utópico. Não me parece. A diplomacia dos dois países ditará,
certamente, novos encontros que promoverão “apertos de mão” coletivos, entre
estes povos, condição sine qua non para o equilíbrio mundial e desenvolvimento
das nações.

Sem comentários:
Enviar um comentário