A reflexão que
aqui partilho está relacionada com o meu mais recente projeto profissional: a
construção de um plano estratégico de ação, para a organização a que pertenço, que
permita a tomada de decisão esclarecida e fundamentada a partir da utilização
de um instrumento de gestão estratégica: o BSC.
Estratégia é
um conceito eminentemente ligado ao contexto militar, no entanto ao longo dos
tempos foi sendo aplicado ao mundo organizacional na medida em que permitia atingir
resultados mais eficazes, a partir da ligação entre fins, objetivos e políticas
funcionais de várias unidades funcionais da organização e planos operacionais
que guiam as suas atividades (Hofer & Schendel, 1978, p. 13) que dá lugar a um "plano unificado, compreensivo e
integrado relacionando as vantagens estratégicas com os desafios do meio
envolvente" (Jauch & Glueck, 1980, p. 12).
Porter (1997, p.
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, acerca da importância do planeamento estratégico nas organizações, discorre da
seguinte forma:
“Qualquer organização sem
estratégia corre o risco de se transformar, simplesmente, numa folha seca que
se move ao capricho dos ventos da concorrência. A longo prazo, a única forma de
prosperar é compreender de que forma ela poderá ser diferente das outras
organizações”.
Assente nesta
reflexão, percebemos que a identidade das organizações está também relacionada
com o estabelecimento de um plano estratégico de ação na medida em que a
organização é aquilo que os seus membros, enformados pelas suas perceções,
decidem ao nível dos processos de gestão, incluindo a missão, os valores e a
estratégia, sendo estes elementos carácter central e distinto da organização
(Spínola; 2012:35-36).
Desta forma, e
tendo em conta a “frustração” em torno dos tradicionais sistemas de mensuração
do desempenho das organizações, que relevam a caracterização financeira em
detrimento de outras avaliações, entendeu-se ser prioritário incorporar a
avaliação dos ativos intangíveis e intelectuais nas organizações, atendendo aos
serviços e produtos de alta qualidade, funcionários motivados e habilitados,
processos internos eficientes e consistentes, e clientes satisfeitos e fiéis (Kaplan & Norton, 1997, p. 7) Nascia assim o BSC.
Nos últimos
anos, e tendo como desafio tornar as organizações públicas em entidades com
cultura estratégica, capazes de direcionarem a sua ação em prol dos seu centro
de gravidade, os cidadãos, o BSC veio trazer valor acrescentado no planeamento
estratégico. Assim, no caso que referi inicialmente, e sendo a minha
organização uma entidade incorporada na Administração Pública Central,
começámos por definir claramente os objetivos estratégicos e os indicadores
para as diferentes perspectivas (cliente, processos internos, aprendizagem e
crescimento e sustentabilidade, entendida como responsabilidade financeira e
orçamental), considerando as relações de causa-efeito entre elas. Delinearam-se
também as ações estratégicas, que permitirão cumprir a sua missão e tendo em
consideração a visão estipulada. O modelo criado, com as quatro perspectivas,
centra a gestão estratégica da instituição no cliente (cidadão), não obstante
não relega para segundo plano a perspectivas de responsabilidade financeira e
orçamental, entendendo-a como garante da sustentabilidade na medida em que se
relaciona intimamente com o valor mais alto do centro de gravidade: o cidadão.
Vemos portanto
que o cidadão passa a estar no centro da implementação das medidas estratégicas
das organizações públicas. Pressinto, pois, uma mudança, que sendo implementada
ao nível da estratégia das organizações, trará óbvios benefícios para os
cidadãos na medida em que, no âmbito da análise do BSC, passam a estar no
centro de gravidade das organizações. Esperemos que melhores políticas públicas
se consubstanciem a partir deste instrumento. A ver vamos!
Bibliografia
Hofer, C., & Schendel,
D. (1978). Strategy formulation: Analytical concepts. St. Paul: West
Publishing Company.
Jauch, L., &
Glueck, W. (1980). Business Policy and Strategic Management (5ª
edição, 1988 ed.). McGraw-Hill.
Kaplan, R., & Norton, D. (1997). Balanced
Scorecard: a estratégia em acção. Rio de Janeiro: Elsevier: Editora
Campus.
Porter, M. (nov/dez de 1997). A Hora da estratégia. HSM
Management, Ano1 nº5, 6-10.
Spínola, S. C. (2012). As Relações Públicas: o
papel social e organizacional. Função estratégica e táctita. Análise à visão
dos profissionais em organizações em Portugal. Lisboa: INP - Instituto
Superior Novas Profissões.